quarta-feira, 26 de outubro de 2011

MST ocupa terra improdutiva do governo e promete resistir à reintegração de posse

Por Camila Queiroz

Da ADITAL – Notícias da América Latina e Caribe

30 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam na manhã da segunda-feira (24) uma área de 480 hectares da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), que não vinha cumprindo sua principal função, desenvolver pesquisas. As terras ficam no município de Eldorado do Sul, estado do Rio Grande do Sul, onde há três anos não é criado nenhum novo assentamento.
Em contato com o movimento, o governo do Estado se comprometeu a marcar reunião para debater o caso, porém, preferiu pedir ação de reintegração de posse. Frente a isto, o MST anuncia que irá resistir até que as mil famílias acampadas em todo o Estado tenham acesso a terra.

"Despejar é tratar como caso de polícia uma questão que é social, por isso vamos resistir, já estamos fazendo barricadas. O governo ainda disse à imprensa que não tem resolução para o nosso caso; nos ofereceu no mês passado uma área desprivilegiada de 350 hectares, onde famílias já estão acampadas, mas que não é suficiente para resolver o problema da terra. Leva a reforma agrária a passo de tartaruga, em abril prometeu assentamento para 550 famílias e não fez nada até agora”, denunciou João Paulo da Silva, membro da coordenação do MST no estado do Rio Grande do Sul.

O militante destaca que não há nenhuma cultura plantada em boa parte da área da Fepagro, nem pesquisas, que seria o propósito das terras. Ao invés disso, 130 hectares de terra pública são arrendados há mais de 17 anos para plantação de arroz convencional, fazendo-se fumigação aérea de agrotóxicos.

Em carta, o MST critica o uso de agrotóxicos, informando que as aplicações ocorrem nas proximidades do Assentamento Conquista Nonoaiense e a Vila Progresso. "É sabido que o uso de agrotóxicos causa prejuízos à saúde humana, como o desenvolvimento do câncer, depressão e outros problemas”, alerta o movimento, explicitando que a população corre perigo.

O governo afirmou ainda que pretende desenvolver pesquisas com arroz ecológico. Frente a isto, João Paulo ressalta que o MST já trabalha com esta cultura e seria ideal uma parceria. "As famílias do MST já detém esse conhecimento, então queremos que seja feito um assentamento na área e haja uma parceria para pesquisas”, declarou.

Segundo o movimento, a proposta foi bem recebida pelo diretor da Fepagro de Eldorado do Sul, Maurício Dasso, que admitiu que parte da terra está sendo arrendada e demonstrou interesse em ceder a área para pesquisa em arroz ecológico.

O MST argumenta que, caso seja criado assentamento no local, toda a comunidade será beneficiada, pois terá acesso a alimentos baratos e saudáveis.

Apenas no Rio Grande do Sul, 400 famílias do MST que já foram assentadas produzem atualmente 3.800 hectares de arroz orgânico, produção destinada à merenda escolar e cestas básicas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A safra prevista para 2011 e 2012 é de 350 mil sacas.

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